Uma cozinheira que adora cozinhar o que é gostoso e, uma educadora sexual que acredita no poder de diversão da sexualidade.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Viver sem a vergonha de ser feliz!


Na nossa sociedade, para ser homem não é suficiente nascer do sexo masculino. É necessário desenvolver a masculinidade, os diversos significados atribuídos à imagem de homem que desde pequeno o menino assimila através dos modelos de comportamentos que a sociedade e a família esperam que ele tenha, em relação a ele mesmo, à mulher, à família e aos amigos.

Na nossa cultura, principalmente a nordestina, um modelo tradicional de masculinidade é “ser forte”.  Cada garoto, pode interpretar este conceito à seu modo e tomar a atitude  que lhe convier, ou que for capaz, para confirmar sua masculinidade. Zé Aprígio escolheu as mais complexas! Mesmo dotado fisicamente de um corpo, que por si só impunha respeito, pelo tamanho e estrutura, ele não optou pela força física, como a maioria. Para ele, ser forte, foi ser uma pessoa capaz de resistir aos embates da vida, tomar atitudes, não paralisar diante do medo e usar sua inteligência para obter novas respostas, enfrentando desafios e trabalhando incansavelmente.

Na família, Zé Aprígio foi o cuidador, protetor, provedor, mas também um controlador. Este seu senso de responsabilidade aguçado causou muitas diferenças, entre eu e ele, principalmente, na minha adolescência. Fui das suas quatro irmãs, a que lhe deu mais trabalho. Eu era, digamos assim, a mais... inquieta... rsrsrs. E isto, instigava o seu espírito protetor, que alimentado por valores rígidos e transparentes, tornava-o tão afiado, que amedrontava qualquer garoto que pensasse em se aproximar de mim, e de minhas irmãs. Ah!... Quantas festas frustradas, para as quais me arrumava, e passava a noite inteira sentada...  Não porque ninguém quizesse dançar comigo! (coisa que só descobri depois de adulta) Mas porque na sua concepção de homem, dificultar ou mesmo impedir a aproximação dos meninos, era uma questão de “honra”! E isto valia para quem quer que se engraçasse de suas irmãs; mesmo que fosse um amigo.

Mas, não só de diferenças foi construída a nossa relação. Em muitas coisas nos identificávamos muito, entre elas: a emoção na vida! A sua masculinidade, embora pautada no conceito de que o homem tem que “ser duro”, não expressar suas emoções, controlar a si, e ao mundo, Zé Aprígio se entregava às situações que lhe tocavam o coração. Ele esbanjava felicidade quando estávamos juntos em família! Quanto brilho e paixão ao olhar sua amada, Themis! Que carinho e cuidado com seus filhos, a neta Letícia, com os irmãos, tios, primos, amigos, e até... os agregados! Dava gosto está na sua companhia, em Viçosa, numa vaquejada ou num forró! E o mais delicioso, que prazer em comer! Não conheci ninguém que motivasse tanto uma cozinheira! Aliás, ele foi o meu maior incentivador na cozinha.

 Ah...Como eu adorava cozinhar para você, Zé Aprígio!... Você gostava de tudo! Mas, quando eu fazia a Dobradinha da casa da mamãe com o Lombo de porco na cerveja, eu via os seus olhos “darem uma festa” na hora que avistavam os pratos. A sua boca era uma verdadeira orquestra, emitindo vários sons, estalando e salivando entre uma garfada e outra... e, quando fazia uma pequena pausa para respirar ou intercalar com um gole de bebida... não se cansava em dizer – arretado, arretado!!!...Lena.

Meu irmão querido, que falta que você faz! O seu lugar estará sempre guardado na mesa do meu coração.
Saudades, muuuitas saudades!!!!

7 comentários:

  1. Tia,

    Chorei desde a primeira linha até a última. Que saudades do meu tio me chamando de 'Miloca'! Tanta doçura, tantos sorrisos, tantas palavras carinhosas e abraços apertados...

    ...Esse título me lembrou um dia que, ainda quando eu tinha uns 8 ou 10 anos, estava tendo uma festa na casa da Barra do Tio Zé. Num momento de relance, olhei pra ele. E ele estava tão lindo, cantando pra si mesmo e de olhos fechados essa música do Gonzaguinha com um copo de whiskey na mão.

    Inesquecível, tio Zé. Obrigada por tudo que você deixou.

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  2. muito lindo,passar nesta vida e ter uma vida lindaaaa,homem bom e amigo,voz geral,,parabens p irmao homem marido e pai que foi ze...deus ilumine vc ,bja cacilda sampaio

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  3. Nossa! Que dobradinha!!! Zezinho e lombinho!!!
    Com um porquinho do nossso amor, vixe!!!
    Babei!!!
    Arretado, Lena! Arretado!!!
    Beijinho saudoso e saboroso, Nice.

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  4. Leninha, o Zé realmente era um grande "comedor ".A minha satisfação era enorme em observar Melú preparando os quitutes que ele mais gostava. Depois, vinha a satisfação maior, que era vê-lo comer com aquele gosto. São momentos que jamais esqueceremos. Bjs, Cado

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  5. Lena,
    Que carta de amor linda!
    bjs-Masé

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  6. Lena,
    Compartilhei seu texto lindo.

    João Aderbal

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  7. Muito bom ler essas coisas lindas,
    saudades sem tamanho!
    Bjo Marina

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